Isaura Daniel
São Paulo – A Argélia praticamente triplicou as exportações de petróleo para o Brasil nos primeiros três meses do ano. O valor dos embarques ou de US$ 171 milhões no primeiro trimestre de 2003 para US$ 417,9 milhões no mesmo período deste ano, um aumento de 144%.
O crescimento confirma a tendência que já vinha se desenhando no ano ado, quando o Brasil importou dos argelinos US$ 802 milhões em petróleo ante os US$ 678,9 milhões de 2002.
O país também colaborou para que a África despontasse como a região que mais aumentou suas vendas para o Brasil em abril. As importações brasileiras vindas do continente dobraram no mês, impulsionadas pelas vendas de petróleo. A tendência, segundo especialistas do setor, é que a África cresça ainda mais como fornecedora da commodity.
"Trazer do Oriente Médio é mais caro pois o seguro dos navios aumentou em função dos conflitos na região", diz o diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires. Ele acredita que o fato deve beneficiar os países africanos, como Argélia e Nigéria, que já são os dois maiores fornecedores do produto no Brasil.
Até o final do ano ado, porém, alguns dos principais exportadores de petróleo do Oriente Médio continuavam aumentando as suas vendas para o Brasil. Caso da Arábia Saudita, que ou de US$ 523 milhões em embarques em 2002 para US$ 724 milhões. O Iraque, porém, registrou queda nos embarques.
Outro grande produtor mundial de petróleo, a Venezuela, vendeu apenas US$ 3,4 milhões para o Brasil contra os US$ 77 milhões que havia exportado em 2002.
Os envios da Argentina caíram pela metade, de US$ 308 milhões para US$ 155 milhões. Fornecedores menos tradicionais, como Estados Unidos, Suíça, Alemanha e Rússia, que haviam faturado entre US$ 20 milhões e US$ 45 milhões cada um em venda de petróleo para os brasileiros em 2002, não chegaram a exportar para o país no ano ado. No mês de abril, as importações brasileiras do Oriente Médio caíram 44%. Ainda não há detalhes, porém, de quanto do percentual corresponde ao petróleo.
Argélia tem 15ª maior reserva
O que também vem levando ao aumento das compras de petróleo africano pelo Brasil, de acordo com o analista de commodities da Global Invest, Paulo Rossetti, é o fato de a região ter boas quantidades de petróleo, num momento de baixos estoques mundiais. A Argélia tem a 15ª maior reserva de petróleo do mundo, com 9 bilhões de barris.
Há ainda há o fato de o Brasil vir fazendo um esforço de aproximação comercial com o país. Em 2003 foi enviada uma missão à Argélia e assinados acordos bilaterais. Um deles trata justamente da exploração de petróleo pela Petrobras em parceria com a estatal Sonatrach e o outro da venda de carnes brasileiras para o país.
A balança comercial brasileira com a Argélia é deficitária. No ano ado o Brasil exportou apenas US$ 153 milhões e importou US$ 1,1 bilhão.
Mais petróleo daqui
O Brasil, na verdade, vem tentando diminuir as importações de petróleo nos últimos anos. "O objetivo é não depender de outros países", explica Rossetti. Apesar de que o resultado do esforço tem sido significativo para a diminuição dos volumes, as compras de petróleo têm aumentado em faturamento. O país conseguiu diminuir as importações de US$ 3,9 bilhões em 2001 para US$ 3,4 bilhões em 2002, mas no ano ado voltou aos US$ 3,9 bilhões.
Entre os meses de janeiro e abril, a aquisição de petróleo alcançou US$ 1,8 bilhão contra os US$ 1,4 bilhão do mesmo período do ano anterior. O aumento do preço do petróleo pesou nesta conta.
Ontem mesmo, o barril de tipo WTI chegou a ser cotado em US$ 39 e o Brent a US$ 36,39. No final de fevereiro, as cotações estavam em US$ 36 e US$ 32 respectivamente.